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Finanças pessoais - Coloque tudo na ponta do lápis

15/10/2012

Essa é a saída apontada por especialistas para os endividados colocarem suas contas no azul

 

Com a elevação dos preços dos alimentos, serviços e tarifas, a sensação é de que os 30 dias que separam o recebimento do salário de um mês para o outro estão cada vez mais longos. Nessa situação é que muitos recorrem às facilidades do crédito para cobrir uma emergência e acabam criando um rombo no orçamento doméstico por falta de planejamento financeiro ou mesmo por desconhecimento das altas taxas de juros cobradas pelo mercado.


A última Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Federação do Comércio de Goiás (Fecomércio - GO), aponta que 19% das famílias goianienses estão endividadas, ou seja, 75,4 mil famílias estão com as contas atrasadas. Destas, 37,3 mil estão inadimplentes, isto é, têm contas atrasadas há mais de 90 dias.
 

Cartão de crédito e cheque especial são os tipos de dívidas que encabeçam as pendências dos goianienses, exatamente os serviços nos quais as instituições aplicam as taxas de juros mais elevadas - em torno de 12% e 8% mensais, respectivamente.


Para auxiliar esses consumidores a colocar as contas em dia, o Procon Goiás realiza, periodicamente, um curso de Educação Financeira e Planejamento do Orçamento Doméstico. O curso é gratuito e aberto ao público.
“Todas as pessoas que nos procuram para renegociar dívidas nos as orientamos a participar do curso para que não caiam de novo nessa situação”, afirma o gerente de pesquisa e cálculo do Procon Goiás, Gleidson Tomaz. Um total de 5.308 consumidores foi atendido pelo órgão de janeiro a setembro. Destes, 1.599 procuraram o Procon com o intuito de renegociar dívidas.


A desempregada Alane Santos, de 28 anos, engrossa esse universo de endividados. Ela, que participou do curso na última quarta-feira, decidiu procurar o órgão ao perceber que sua dívida do cartão de crédito saltou, após 12 meses sem pagar nem um centavo da pendência, de R$ 59 para quase R$ 1,1 mil. Ela conta que há seis meses, logo quando recebeu o acerto de seu último emprego, procurou, em vão, a instituição bancária para acertar a dívida. “Eles disseram que minha conta não estava mais naquela agência e sim no interior”, diz. O imbróglio refletiu em uma atitude impulsiva. “Gastei os R$ 800 que tinha levado para pagá-los”, diz.
Sua renda familiar é de dois salários mínimos (R$1.244), somado o seguro-desemprego de Adele e a renda do auxiliar de depósito, Renildo Bezerra. Com esse valor, sustentam ainda duas crianças, de 5 e 8 anos. “Aprendi a controlar as contas”, afirma.
 

Durante o curso, a desempregada aprendeu que não há fórmula mágica para deixar as contas no azul, mas uma dica preciosa foi repassada pelo gerente de cálculo. “Colocar na ponta do lápis até o lanche e o churrasquinho é necessário para saber o peso exato de cada item no orçamento”, ensinou Gleidson.
O gerente explica como criar uma planilha de gastos, na qual haja uma coluna de previsão de gastos e outra apontando os gastos reais (veja planilha). A ideia é focar na redução dos gastos previstos. “Muitos assustam com o quanto é gasto com itens supérfluos, mas a ideia é essa mesma”, afirma.

JUROS

O gerente explica que a maioria dos endividados, especialmente os de cheque especial e cartão de crédito, desconhece não só os juros cobrados pelas instituições, mas também como o resultado prático da incidência desse índice em uma dívida ao longo dos meses.
O consumidor que tem uma dívida de cartão de crédito de R$ 900 pode chegar ao fim de três meses com uma dívida maior que a inicial. Se na primeira parcela decide quitar somente 10% (pagamento mínimo exigido pela administradora de cartão de crédito), que corresponde a R$ 30, terá uma dívida no terceiro mês de R$ 964,48. Isso, claro, se o consumidor deixar rolar a dívida pagando, durante os três meses consecutivos, somente a cota mínima do valor da fatura. “O cheque especial é uma dinâmica semelhante a essa. Quem já sentiu na pele sabe do que estou falando”, diz Gleidson.


Nesse momento o sorriso tímido do mecânico, Diogo de Melo Torres, 26 anos, o denunciou. Há quatro anos ele disputa uma queda de braço com o banco. Por mais que ele pague parte do débito de seu cheque especial, não consegue quitar a dívida bancária.
Ao contrário, ao ver seu rendimento engolido pela instituição, se viu obrigado a antecipar o 13º salário e contratar empréstimos. O montante, que começou com R$ 500, valor total de seu limite do cheque especial em 2008, alcançou, atualmente, R$ 9 mil.


“Decidi fazer a portabilidade para outro banco. Antes, copiei todos os documentos bancários e agora vou aguardá-los me procurar para fechar um acordo.” Embora esteja atolado em dívidas, o mecânico diz que não comprou nenhum bem durável de valor expressivo.


O dinheiro foi utilizado para cobrir pequenas contas domésticas. “Pegava o dinheiro e não tinha noção dos juros. Não comprei nada de especial”, diz. Atento as dicas repassadas pelo profissional do Procon, a proposta agora é colocar tudo na ponta do lápis e economizar para tentar limpar o nome.


Curso do Procon dá dicas para economizar e não se endividar
(KR)


Ao longo do curso, o consumidor aprende dicas simples para economizar ou não cair em estratégias de instituições financeiras arquitetadas para atrair o cliente menos atento. Gleidson Tomaz, do Procon Goiás, explica que, ao contratar um financiamento, por exemplo, o consumidor deve verificar o Custo Total Efetivo (CET), que é a soma de todas as tarifas cobradas pelas instituições, como Imposto de Operações Financeiras (IOF) e taxas administrativas. Na prática, pode ocorrer de uma taxa de juros anunciada pelo banco ser mais baixa que a do concorrente, porém o resultado final pode não beneficiar o consumidor.


Já no supermercado, Gleidson explica que o método é simples, porém exige disciplina. “O consumidor já deve sair de casa com quanto pode gastar”, diz. Primeiro, abasteça o carrinho com os produtos de primeira necessidade e, com o que sobrou do dinheiro, completa com itens considerados supérfluos. Atenção especial para os dias promocionais de alimentos do setor de hortifrutigranjeiros. Alguns supermercados, afirma Gleidson, compensam os descontos de alguns produtos, elevando o preço de outros.


Ligeiras alterações mensais, muitas abaixo da casa de 1% de vários alimentos, não costumam assustar muito o consumidor. Entretanto, essas variações têm grande impacto no orçamento ao considerar que o rendimento do assalariado é fixo. Assim, no fim das contas, o consumidor tem de rebolar para arcar com esses custos extras.

Para não entrar no vermelho, outras despesas devem ser sacrificadas.
Cada vez mais, o consumidor goiano vê alimentos essenciais para a mesa sofrerem alterações. O óleo de soja, por exemplo, acumula aumento de 25% este ano. Frango subiu 10,48% e a batata inglesa, 26,07%.

Publicado em O Popular/Karina Ribeiro

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