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Dia das Crianças

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Dia das Crianças

* Vera Iaconelli

Pensemos no Dia das Crianças. Um dia, a princípio, de puro lazer dedicados aos pequenos. O que nos ocupa? A rotina de comprar o presente. Talvez os filhos já tenham até escolhido o brinquedo que querem ganhar e os pais já estão se descabelando para saber como vão colocar mais estes mimos no orçamento do mês. Talvez, passe pela cabeça que os bons pais têm que satisfazer os bons filhos realizando seus desejos de consumo em datas tão
caracteristicamente consumistas.

Vamos deixar uma coisa bem clara: o que os pais têm que dar aos filhos é a educação. Educação no sentido de prepará-los para lidar com o mundo. Educar para a realidade é fundamental desde quando ele começa balbuciar no shopping "eu quelo!".

Educar para a realidade também diz respeito a ensinar critérios para consumir: querer, precisar e poder adquirir. Nem sempre precisamos do que queremos, nem sempre precisamos do que podemos ter, nem sempre podemos ter o que precisamos ou queremos.

Quando os pais podem lidar com essas limitações e fazer do consumo algo racional, eles não só estarão defendendo uma certa economia familiar como também ensinando seus filhos a planejarem, lidarem com a realidade, serem
criativos, não se deixarem levar pela opinião alheia, não serem valorizados pelos objetos que têm e sim pelo que são, respeitarem os pais e não se deixarem levar por outras formas de consumismo danosas. O consumo de drogas,
por exemplo, está diretamente ligado ao tipo de sociedade em que vivemos, onde adquirir coisas é sinônimo de "ser alguém".

Tudo isso me lembra alguns momentos da minha infância, quando acabava a luz em casa. Os adultos ficavam agitados, preocupados com geladeiras e afins, mas o divertido para nós crianças era brincar de teatro de sombras à luz de velas e contar histórias de medo. A quebra da rotina nos fazia mais íntimos e criativos. O que seria mais uma noite em frente da TV, passava a ser uma experiência nova e divertida em família.

A rotina atinge a nossa relação com nossos filhos e, às vezes, perdemos o prazer de estar com eles. Aliás, almejamos que eles entrem na rotina para que possamos ter mais tempo para nós. É justo, mas precisamos prestar atenção se nossos momentos de lazer também não estão se tornando pura rotina.

Então, o que podemos fazer no Dia das Crianças? Comemorar a tarefa de acompanhar o crescimento de outro ser humano a quem nos dispusemos a amar, orientar e proteger. Fazer isso com o coração e a criatividade, usando o espaço público, inventando brincadeiras e, se quisermos e pudermos, dando uma lembrancinha. Nenhum presente daria conta de expressar nosso amor por eles e, portanto, presente não é medida de nada.

O que falta às crianças hoje é presença e não presentes.

* Vera Iaconelli é mestre em Psicologia pela USP, psicoterapeuta corporal biodinâmica de adultos e crianças e professora do curso de formação em Psicologia Biodinâmica do IBPB - Instituto Brasileiro de Psicologia Biodinâmica. Há seis anos, coordena a Clínica Gerar - Escola de Pais, que surgiu da necessidade de cuidar de crianças de uma forma profilática, prevenindo as dificuldades futuras e auxiliando os pais na formação dos filhos.

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