Mundo Mulher

Mais do que discursos, educar é ter atitude e dar bons exemplos

Cláudia Fernanda Venelli Razuk
 
Quem nunca ouviu a seguinte frase: “Educação vem de berço”. Em muitas famílias isso é regra e são os pais os educadores fundamentais com os quais as crianças aprendem valores básicos como: respeito, disciplina e solidariedade. Já em outras famílias, o quesito educação é deixado de lado e essa responsabilidade é transferida para os avós, parentes mais próximos ou para a escola. 

Na novela “Caminho das Índias”, exibida pela Rede Globo, podemos acompanhar o mau exemplo através do personagem Zeca (Duda Nagle) e sua relação com os pais César (Antonio Calloni) e Ilana (Ana beatriz Nogueira). Sempre protegido pelos progenitores, independentemente da atrocidade que cometa, o personagem não tem limites e isso reflete em seu péssimo comportamento como aluno.
Durante os discursos apresentados na trama, César e Ilana apóiam incondicionalmente as atitudes dos filhos e se queixam quando são chamados na escola, dizendo que são os professores que têm que educar seu filho. Infelizmente, na vida real, muitos casais pensam de forma parecida.
Mas, ao contrário do que muitos pensam, a educação é feita em conjunto entre escola e família e é preciso distribuir essa responsabilidade de forma que os pais participem mais a vida dos filhos e a escola cumpra seu papel social. Para estabelecer essas diferenças, convidamos a coordenadora pedagógica do Colégio Itatiaia, Cláudia Fernanda Venelli Razuk para falar sobre o assunto. Confira:
 
Situação real 1: Almoço em um restaurante. Os filhos de um casal, após terminarem seu almoço, brincam tranqüilamente com brinquedinhos estrategicamente trazidos de casa para distrai-los. Uma criança da mesa vizinha se interessa e vai brincar também, até aí, tudo bem! Mas a criança começa a tumultuar o ambiente, joga os brinquedos no chão, brinca falando muito alto, incomodando não só à família citada, mas a todas as pessoas das mesas vizinhas.
O casal orienta seus filhos a ficarem sentadinhos, brincando calmamente, o que eles obedecem, apesar da presença do “novo amigo”. Pedem gentilmente ao menino que procure “se conter”, explicando a ele que está incomodando as outras pessoas. Os pais do garoto apenas olham e não tomam nenhuma atitude. Na hora de chamá-lo para ir embora, ele não quer ir. Começam a discutir com ele, sem importar-se por estar importunando. A mãe, então, termina a discussão com a seguinte “pérola”: “Vamos embora, esses brinquedos são feios e velhos, você tem mais bonitos em casa”.
 
Situação real 2: Casa de praia, amigos de amigos. Aproximadamente 20 pessoas convivendo no mesmo ambiente, para passar o fim de semana. Um casal com dois filhos faz parte do grupo. Seus filhos, sem rotina, têm o hábito de “cochilar” às 19 h e após este breve cochilo, ficar acordados até, pelo menos, 3 horas da manhã. O detalhe é que os pais, em nenhum momento, preocuparam-se em pedir para que, em meio à suas brincadeiras bem barulhentas, respeitassem os que tentavam dormir. Quando uma das “tias” encheu-se de coragem e solicitou os tão esperados “respeito e silêncio”, a reação dos pais foi fechar a cara, ofender-se e não tomar nenhuma atitude.
 
Gente, em que mundo nós estamos? Sabemos que as crianças são naturalmente curiosas e sapecas, graças a Deus, pois não colocamos nossos filhos no mundo para serem robozinhos ou cordeirinhos. E quem tem filhos sabe que, embora tentando, não conseguimos agir 100% corretamente.
 
Nossos pequenos “escorregões” na educação dos pequenos acontecem, são normais e às vezes somos, sim, vencidos por eles. Alguém poderia dizer: que crianças mais mal-educadas! Sim, “mal-educadas” – mas quem as educa? A meu ver, não é culpa delas (ainda) e sim, dos pais.
 
Nos dois casos, as crianças tiveram atitudes relativamente normais, visto que ainda estão crescendo e aprendendo. Mas em nenhum momento os pais se colocaram orientando-os quanto à maneira correta de agir, ensinando-os a cuidar dos objetos quando pegá-los emprestados ou respeitar as pessoas com quem convivem. E o pior, ainda deram péssimos exemplos, com comportamentos contrários ao que se espera de adultos educados.
 
O personagem de Duda Nagle na novela “Caminho das Índias” tem, frequentemente, atitudes extremamente inadequadas e agressivas, é criado totalmente sem limites e seus pais o protegem independente das atitudes que cometa. Em um dos capítulos, chega a agredir sua professora, que teve de “engolir” o assunto, pois os pais, ao invés de corrigir o filho, o protegeram e ainda ameaçaram processar a ela e ao colégio. Em outro, ele lidera uma seção de violência, agredindo, junto com a sua “turma”, um dos personagens. E novamente, os pais o protegeram.
 
Todos sabem que a educação de uma criança ou adolescente, principalmente hoje em dia quando muitos passam quase o dia todo no colégio, é feita em conjunto entre escola e família. . Essa parceria é fundamental, a escola orienta e participa de uma boa parte da educação, mantendo-se atenta à aprendizagem e ao comportamento do aluno enquanto estiver dentro das paredes da instituição. E deve ajudar, orientando os pais quando surgirem dificuldades ou mostrando os pontos positivos a serem incentivados.
 
Mas isso não tira a responsabilidade dos pais de participarem ativamente das situações em que a criança necessita de orientações e bons exemplos. Aliás, a escola pode ajudar muito, mas educação vem, realmente, de casa. Os pais devem estar muito atentos e participar de tudo o que acontece, devem manter o canal de comunicação e confiança com seus filhos verdadeiramente abertos, para poderem atuar e educar sempre que houver necessidade. Nunca encobrindo os erros de seus filhos, pois atrás de um pequeno deslize poderá aparecer um erro de proporções bem maiores, quando talvez, seja tarde demais para tentar remediá-lo.
 
Parece exagero comparar as pequenas situações citadas acima, com o comportamento deste personagem adolescente, aparentemente, bem mais sério. Mas a questão é exatamente esta: a educação acontece desde cedo, desde o nascimento. É através dos pequenos atos que ensinamos nossos filhos, preparando-os para as situações maiores e reais da vida adulta. Se uma criança pequena crescer sem limites, este tipo de comportamento continuará e poderá, ainda, torna-se pior.
 
Ficamos por imaginar que tipos de adultos as crianças dos exemplos acima se tornarão, se continuarem a serem educados desta forma. Esperamos, sinceramente, que seus pais abram os olhos, pois nunca é tarde para aprender, principalmente, sobre o respeito ao próximo. Discursos sobre a educação adequada, todos têm e tenho certeza que os referidos pais também já o fizeram. Mas o que conta são as atitudes e os bons exemplos.
 
As crianças seguem os padrões da família: pais alegres, filhos felizes. Ambiente de paz, filhos tranqüilos. Pais que se alimentam corretamente e com equilíbrio, filhos assim terão. Pais organizados, filhos também. Pais educados, que dão e cobram atitudes corretas, formarão filhos íntegros e seguros.
 
E não adianta fechar os olhos: se os pais não educarem seus filhos, a sociedade o fará!
 
Por: Cláudia Fernanda Venelli Razuk, coordenadora pedagógica do Colégio Itatiaia e mãe do Pedro e do Arthur.
 
COLÉGIO ITATIAIA-  
www.colegioitatiaia.com.br

Renata Santiago
 e-mail: lucky@luckyassessoria.com.br

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