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Será que meu filho é homossexual? Dra. Carmem Bruder

Será que meu filho é homossexual? Dra. Carmem Bruder

03/06/2009 

A QUESTÃO: 
Tenho um filho de 13 anos, completados em abril. Meu marido, tendo uma conversa sobre sexo com ele, sobre o que ele pensava, suas dúvidas, expectativas, etc, ele disse que sentia atração sim, mas pensar nisto causava repulsa nele.  Ele disse que sim, mas ficamos preocupados com esta "repulsa". Nos preocupamos um pouco com a sexualidade dele; sua voz sempre foi muito fina e ele é extremamente dócil, obediente. Somente isto. Nada mais. Ele até já comentou sobre algumas meninas da escola em que ele estava interessado em mais de uma oportunidade. Entretanto, tenho diversos casos de homossexualidade na família, tanto feminina quanto masculina. Assim, nosso receio é que meu filho tenha tendência para o homossexualismo, já que falou que tem repulsa pelo sexo. Se for uma tendência, temos que abordá-lo ou esperamos que ele fale alguma coisa. Se não tem, é válido tentarmos conversar sobre esta repulsa? Ou é próprio da idade, uma fase?

 


 A REFLEXÃO:
Questões envolvendo a sexualidade dos filhos ainda pequenos sempre causam muito desconforto aos pais e são muito comuns hoje, até mesmo em idades bem mais tenras, como 4 ou 5 anos, muito mais em se tratando de meninos do que de meninas. É um assunto complexo, porque envolve todo um posicionamento familiar, social e cultural, e, em quase todos os casos, antecedido por uma “desconfiança” ou temor, que, no seu caso, se justifica na presença de outros homossexuais na família.

São vários fatores a se considerar, o primeiro refere-se à idade; aos treze anos a escolha do objeto sexual já está feita, ou seja, a criança, ainda que não demonstre interresse explícito por essas questões, já tem definido o sexo de seu parceiro. Aos 4 ou 5 anos, a criança ainda está se desenvolvendo, pois a estrutura psíquica (e sexual) dela ainda não está formada, o que, em geral, se dá entre os 7 e 8 anos. Outro fator é que não se considera mais homossexualidade como uma doença, mas sim, como uma forma variante de orientação sexual e que, portanto, deveria ser encarada com naturalidade pela família e pela sociedade, ainda que não seja bem isto que aconteça. Também os medos que a família tem interferem na forma como a criança e seus atos são vistos. Nelas, as diferenças de atitudes entre os sexos ainda são tênues, e mesmo a agressividade mais exacerbada, comum nos meninos, pode faltar em muitos casos. Alem disso, os caracteres sexuais secundários, que ajudam a identificar o gênero da pessoa, só se desenvolverão na adolescência.

Também no caso de seu filho, muitos fatores precisam ser analisados. O fato dele ter “repulsa” por sexo, em si, não quer dizer nada. Nesta fase, da puberdade, o interesse sexual começa aumentar significativa e progressivamente, e muitas das vezes, aumentam com ele os medos e as “repulsas”, como o nojo, por exemplo, que as pessoas desenvolvem para se resguardar moralmente. Também sobre a questão da “tendência” homossexual, é melhor pensarmos em orientação homossexual, assim, se ele a tiver, provavelmente ela já está determinada para o futuro. Desta forma, como não se pode fazer nada pra evitar a homossexualidade, o melhor é conduzir o desenvolvimento dele como o de qualquer outra criança da mesma idade. Assim, conversar com franqueza e abertamente com ele, mas com respeito, ou seja, dando preferência a ouvi-lo ao invés de inquiri-lo. O assunto homossexualidade pode ser introduzido através da discussão aberta e respeitosa sobre fatos envolvendo terceiras pessoas e, desta forma, a opinião dele pode ser conhecida, mas, é claro, com total isenção, ou seja, sem preconceitos. Os pais precisam estar sempre preparados para a possibilidade de conviver com filhos homossexuais e os filhos precisam saber que essa orientação é difícil, porque foge do comum e porque carrega muito preconceito, mas, não podemos nos esquecer que 10% dos humanos são homossexuais, e que, até o momento, nenhuma alteração física foi encontrada pra justificar essa diferença. Pais e filhos também precisam saber que não é a orientação sexual que embasa o amor entre eles, mas sim os laços afetivos e que estes não se determinam pela cor, idade, peso, grau de inteligência ou orientação sexual, mas sim pela vontade de cada um fazer o que pode de melhor no sentido de dar felicidade ao outro, respeitando-se, é claro, os limites da individualidade.

Carmen Bruder é psicanalista. cbruderfonseca@hotmail.com


CURRICULUM VITAE RESUMIDO CARMEN MARIA BRUDER DA FONSECA Psicanalista com formação na Biblioteca Freudiana Brasileira - SP, é médica formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, bacharel em direito pela Universidade Católica de Goiás e advogada pela Ordem dos Advogados do Brasil - seccional Goiás. Especialista em Psicoterapia para Adolescentes e Adultos pelo Núcleo de Estudos em Psicologia e Psiquiatria - SP e em Administração Hospitalar pelo Centro São Camilo de Desenvolvimento em Administração da Saúde - SP. MBA em Administração e Marketing pelo Instituto de Desenvolvimento Humano e Gestão Empresarial do Ministério da Educação - Brasília - DF.

 

 

 

 

 

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