Mundo Mulher

Crack - Droga da moda entre adolescentes

19/07/2009

Uma cidade dominada pela ‘pedra’

De cada dez prisões efetuadas pela Polícia Civil por crime de tráfico de drogas, em Goiânia, sete são por associação para venda de crack

Barata, acessível, fácil de transportar e de efeito imediato. Estas são, essencialmente, as razões que fizeram do crack a droga mais consumida hoje em Goiânia, atestam policiais, médicos e especialistas no assunto. Dados da Polícia Civil indicam que, de cada dez prisões efetuadas em Goiânia por tráfico de entorpecentes, sete tem relação com a droga. Em clínicas especializadas na assistência a dependentes químicos, o domínio do crack é confirmado por todos. Na Penitenciária Odenir Guimarães (POG) e na Casa de Prisão Provisória (CPP), mais da metade da demanda da Gerência de Saúde é formada por presos dependentes de crack com sintomas comuns provocados pelo abuso da droga (veja quais são no quadro desta página). Do mesmo modo, cresce assustadoramente o uso do entorpecente entre adolescentes acusados de delitos diversos.

“O crack é a bola da vez”, confirma o titular da Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc), delegado Isaías de Araújo Pinheiro. Quanto mais impura for a droga (com menor porcentual de cocaína e quantidade maior de outras substâncias), mais barata é a droga. Pequenas porções podem ser adquiridas por até 2 reais. “Apesar disso, o crack deixou de ser a droga da periferia para estar presente em toda Goiânia. Dominou o mercado e as camadas sociais”, afirma o policial civil.

Criminalidade
O uso abusivo de crack está diretamente relacionado com a criminalidade. Nos presídios do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia a droga é a mais consumida pela população carcerária. Cerca de 56% dos presos atendidos na Gerência de Saúde do Complexo, em pouco mais de um mês, entre junho e julho desse ano, apresentavam sintomas indicativos do abuso de entorpecentes. “Quase 100% deles são dependentes de crack”, atesta a psicóloga Sheila Melo, gerente de Assistência à Saúde e Recuperação de Dependentes Químicos da Superintendência do Sistema de Execução Penal (Susepe).

De acordo com a psicóloga, alguns presos chegam ao serviço de saúde extremamente debilitados pelo uso excessivo de crack. “Alguns ficam tão magros que mal conseguem ficar de pé. Por ser altamente dependente, os detentos a usam sem parar, até à exaustão.”

Droga da moda entre adolescentes

Entre os adolescentes infratores, a situação não é diferente. “Nos últimos dois anos, o crack passou a ser a droga da moda entre os adolescentes. O consumo de entorpecentes é o pano de fundo para praticamente todos os atos infracionais cometidos pelos adolescentes e o crack lidera, hoje, os casos de dependência”, cita a delegada Nadir Cordeiro, da Delegacia de Polícia de Apuração de Atos Infracionais (Dpai). “Ontem, um adolescente usuário de crack chegou à delegacia com o corpo todo cortado por estilete, obra de um traficante”, conta.

As estatísticas do Juizado da Infância e Juventude de Goiânia comprovam o avanço acelerado do consumo abusivo de entorpecentes entre os adolescentes encaminhados pela polícia para o cumprimento de medidas socioeducativas. O uso do crack também é crescente entre os garotos e garotas que passam pelo Juizado. Os dados mostram que, no primeiro semestre do ano passado, 3, 28% dos adolescentes infratores relataram consumir a droga. No mesmo período desse ano, esse porcentual subiu para 4,99%.

Perfil muda em hospital psiquiátrico

Na principal porta de entrada do Sistema Único de Saúde para o tratamento da dependência química, o perfil dos internos mudou. Os leitos hospitalares do Pronto Socorro Psiquiátrico Wassily Chuc, antes ocupados, em sua maioria, por alcoolistas, hoje atende principalmente dependentes de múltiplas drogas. “Nesse campo o crack vem ganhando espaço”, diz o coordenador da Divisão de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, psiquiatra Leo Machado.

O dependente de crack que procura o pronto-socorro, de acordo com o médico, é um paciente de alta complexidade. “O crack é uma droga muito impura. E pela via de consumo usada – é fumada em cachimbos –, chega rápido à corrente sanguínea. Seu efeito passa rápido, o que leva o usuário a usar a droga repetidas vezes e desenvolver a dependência cedo.”

O Pronto Socorro Psiquiátrico Wassily Chuc atende em média 2 mil pacientes por mês. Metade é formada por dependentes de álcool e drogas. As internações por dependência química chegam em média a 400 por mês. Com um custo diário, por paciente, girando em torno de R$ 50, a Secretaria de Saúde precisa de cerca de R$ 600 mil para as internações desses pacientes.

Segundo o psiquiatra Lúcio Malagoni Cardoso, presidente da Associação de Psiquiatria de Goiás, algumas das características do crack são seu alto poder de dependência em pouquíssimo tempo de uso e o potencial de dano à saúde mental e geral do dependente. “Esses usuários manifestam tanto quadros ansiosos e depressivos que podem ser mais incidiosos e não tão perceptíveis quanto quadros francamente psicóticos, em que apresentam alucinações e delírios”, enumera.

Internações por crack já são maioria

Um dos principais hospitais de Goiânia no tratamento da dependência química tinha, na semana passada, 122 pacientes internados para recuperação. Desse total, 85% eram dependentes de crack. “Há um ano aumentou muito a demanda de pacientes em busca de tratamento para a dependência da droga”, assinala Larissa Galdino, coordenadora de enfermagem da área de dependência química da Casa de Eurípedes, referência nesse tipo de assistência. Antes disso, lembra a enfermeira, os alcoolistas eram maioria na clínica.

De acordo com ela, o crack ataca o sistema imunológico de seus dependentes. Por causa disso, são comuns os casos de pacientes HIV positivo na unidade. “De 60 pessoas, em média, que chegam aqui, 5 são soropositivos.”

O Popular/Deire Assis

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