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A LUTA CONTINUA - ALEXANDRU SOLOMON

A LUTA CONTINUA - ALEXANDRU SOLOMON

04/11/2012



Se o leitor tem mais anos de vida do que pode contar nos dedos (inclua aqui os dos pés), deve lembrar-se do tempo em que podíamos chegar atrasados ao cinema.

Entrar com a sessão pela metade não nos fazia perder nada do filme e, embora muitos não gostassem, acabávamos nos acostumando. Os atrasados ficavam para a sessão seguinte, viam a parte que tinham perdido e tratavam de emendar uma ponta na outra, no estúdio da cabeça. Quando o filme era “difícil”, não era raro o espectador que decidia revê-lo inteirinho.

Os cinemas de hoje, com sua pontualidade de trem suíço, não mais têm essa tolerância; quem não está lá na hora certa nem embarca, salvo jeitinho. Menos mal que, primeiro, o videocassete e, depois, o DVD — nem estamos falando na interatividade — vieram devolver-nos a possibilidade de voltar, recomeçar o filme a qualquer momento; o que significa, na prática, o direito de nos distrairmos ou de cochilarmos no sofá. Se não estivermos entendendo patavina (há roteiros bem complexos hoje em dia), teremos o remédio de passar e repassar as cenas, paralisar a imagem, pular do fim para o começo e de lá pular de volta.

E mais: se leio, por acaso, uma crítica enriquecedora sobre o filme ou assisto a um depoimento pessoal do roteirista ou diretor, vou correndo rever tudo, agora com outros olhos, encantado em enxergar o que antes nem tinha suspeitado existir. Infelizmente, leitor, no cinema desta vida não há segunda sessão.

Quando, por sorte, acordamos (há os que seguem cochilando...), já estamos além da metade e nos damos conta de que nunca mais veremos esse filme de novo. Talvez até, remexendo nas lembranças e interrogando Mnemósine — a deusa da memória —, possamos mais ou menos recompor o fio da meada ou reinventar a primeira parte, mas nunca, nunca saberemos ao certo o que deixamos de ver — se bem que, a esta altura, mesmo que este filme pareça não ter sentido, o melhor é abrir bem o olho e a alma e tratar de aproveitar o resto da única sessão que nos coube.


Onde encontrar:
Editora Letraviva
http://www.letraviva.com.br
 
Celso Fernandes - cfassessoria@ig.com.br

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