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Turismo - O Egito

02/12/2012

Pertinho de Cairo, Mênfis e Sakara são sítios arqueológicos que vale a pena visitar, não pela imponência,
 
Colosso de Ramsés II, em Mênfis: líder governou o Egito durante 66 anos
 
É difícil imaginar que de uma das cidades mais poderosas da Antiguidade não tenha restado quase nada. Mênfis, hoje a 22 quilômetros ao sul do Cairo, era um dos lugares em torno do qual o mundo conhecido de 4 mil, 5 mil anos atrás girava. Primeira capital do Império do Baixo Egito, ela teria sido fundada pelo faraó Menes. Depois o mesmo Menes promoveu a união entre o Alto e o Baixo Egito, formando um império único.
Interessante é que por séculos a fio, Mênfis emanou um poder temido. Ali eram construídos os carros de guerra dos exércitos egípcios, em torno dela ficavam as famosas “muralhas brancas” erguidas pelo arquiteto Imhotep, nela estava o templo ao deus Ptah. Ramsés II governou de seus palácios por 66 anos, um dos mais longos reinados do Egito.


Ramsés II, um dos governantes mais importantes da história do Egito, deixou suas marcas a partir de Mênfis e são justamente algumas das homenagens a ele que restaram como os principais vestígios de que a cidade, hoje degradada, teve seu tempo de esplendor. O turista pode visitar o local onde ficava o palácio do faraó e ver, de perto, uma das maiores estátuas em homenagem a um governante talhadas no Egito Antigo.
É o Colosso de Ramsés II, mostrando-o em sua tradicional posição de guerra, com a perna esquerda à frente. Ramsés II governou entre 1279 e 1213 a.C. e a estátua, descoberta em 1820, tinha 13 metros de altura. Hoje, danificada, tem 10 metros.


O público também pode ver ali uma esfinge do tempo de Ámon-Ofis II, que reinou entre 1450 e 1425 a.C. Além de um centro de visitação onde estão reunidos essas estátuas, nada mais resta da antiga capital do império. Em torno, barraquinhas com bugigangas deixam o cenário ainda menos imponente.
A cidade é um anexo da capital, com pouquíssima infraestrutura. Quase nada que possa remeter a um lugar que faz parte da mitologia grega e que até mereceu uma profecia de Jeremias, que parece ter se cumprido em grande parte: “Mênfis será reduzida a deserto, será devastada, sem habitantes.”


PIRÂMIDE

Sakara fica a cerca de meia hora de ônibus de Mênfis e nela se repete o quadro de um lugar que já foi muito importante, mas que hoje tornou-se uma atração turística cercada por pobreza e atividades econômicas rústicas, como plantações de tâmaras e criação de caprinos. No local está construída a pirâmide mais antiga do Egito, erguida como túmulo para o soberano Zoser, faraó fundador da 3ª dinastia e que reinou entre 2737 e 2717 a.C.

Ele foi o pioneiro em contratar um arquiteto, Imhotep, para fazer seu monumento funerário e as primeiras tentativas deram errado até que, enfim, foi concebido o edifício com base maior que vai se estreitando à medida que fica mais alto. Isso explica o fato de o complexo todo ser o mais extenso do Egito, com uma área de 8 quilômetros.

A pirâmide de Zoser tem um aspecto um tanto tosco quando comparada às que vieram depois dela, mas as grandes Queóps, Quéfren e Miquerinos não existiriam se a técnica não tivesse sido criada em Sakara por Imhotep. Em torno da grande construção há ruínas de templos e de outras pirâmides menores, como a de Unas – túmulo do último faraó da 5ª dinastia –, e também a chamada Casa do Sul, usada para rituais e cujas colunas foram preservadas pelo tempo.

Escavações descobriram ainda uma série de túmulos, não piramidais, de nobres do Antigo Egito. Esses compartimentos chamam-se túmulos em mastaba e contêm diversos desenhos e hieróglifos com informações importantes daquela época.


A joia do Nilo

Sabendo entrar no ritmo caótico do Cairo, o turista pode aproveitar bastante as maravilhas únicas e incomparáveis de uma cidade com milênios de história


 
Cairo, no Egito: cidade labiríntica cheia de surpresas milenares

 
Quantas Cairos existem? Quantas você tiver tempo de visitar e curiosidade de conhecer. Uma cidade que, com seus arredores, tem cerca de 5 mil anos de história, que foi sede – ela em si ou seus arredores, como Gizé, onde estão as pirâmides, e Mênfis – de um império que chegou a ser o mais poderoso do mundo durante certo período da Antiguidade, e que abriga um dos maiores patrimônios culturais da humanidade, tinha mesmo de se transformar com o tempo.


Há as influências de povos com quem o Egito lutou, que os faraós escravizaram, daqueles que invadiram seu território. Uma enorme gama de vestígios, de locais e construções simbólicas, uma amplidão sem fim de testemunhos de tempos remotos. Tudo isso em meio à vibração e aos problemas de uma megalópole que não para de crescer e que não consegue dar à sua população serviços básicos, como coleta de lixo e rede de esgoto.
Boa parte da população está ligada, primordialmente, ao turismo. Essa dependência transforma todo visitante no ganha-pão de muita gente e isso faz com que os guias se esforcem para falar várias línguas – há muitos fluentes em português – e adaptar os passeios. Estar acompanhado dos guias é fundamental, já que Cairo é uma cidade muito grande, bastante labiríntica, de transporte urbano deficiente e com os riscos inerentes a um lugar onde tanta gente tem dificuldades financeiras.


Tomando os devidos cuidados, sem paranoia, vale muito a pena visitar, por exemplo, o famoso mercado do Cairo, o Khan al-Khalili, na parte islâmica. No emaranhado de corredores e lojinhas, onde se vende de tudo e a todos os preços, a pechincha é a regra número um e o turista pode conseguir preços bem interessantes em especiarias, tecidos, enfeites, lembrancinhas.

MADRASTAS

Perto do mercado há muitas mesquitas e escolas islâmicas, as madrastas. Nos horários de orações, os templos ficam lotados e os comerciantes param o que estão fazendo e se ajoelham em direção a Meca, cidade sagrada do Islã. Como maior cidade do mundo árabe e com 85% da população muçulmana, Cairo, sobretudo em sua parcela islâmica, tem um clima muito especial. Parece que estamos num filme, com os chamados para as orações ecoando pela cidade.


Tudo fica ainda mais grandioso quando se entra em um local como a Mesquita de Mohamed Ali, ou Mesquita de Alabastro. Erguida sobre um colina em 1830, a construção é esplêndida. Situada na Cidadela de Saladino, a mesquita tem estilo otomano e suas torres, ou minaretes, e cúpulas podem chegar a 80 metros de altura. Boa parte dela é composta de alabastro, pedra nobre no Oriente.


Em torno dela há outras mesquitas e a opulência da Mesquita de Alabastro contrasta com as habitações precárias que ocupam a chamada Cidade dos Mortos. O lugar tem esse nome por um motivo talvez único no mundo. São milhares e milhares de famílias que vivem no meio de túmulos de antigos cemitérios do Cairo. Esse populoso bairro dentro do complexo funerário não tem vários serviços básicos, como água encanada e luz elétrica, a não ser aquela levada por meio de ligações clandestinas. É possível ver os túmulos, as cruzes, as tumbas e alguns mausoléus transformaram-se na moradia – não eterna – de pessoas.
Os egípcios dão a impressão de já terem se acostumado com a inusitada situação desta população. No final das contas, a Cidade dos Mortos não está tão mais desguarnecida do que vastas partes da capital, que também sofrem com uma série de deficiências.


A maioria dos edifícios da parte velha do Cairo precisa urgentemente de reformas, com exceção de hotéis e casas comerciais mais chiques. A simbólica Praça Tahir, palco de manifestações populares, é até modesta diante de sua importância política. Com trânsito intenso e prédios mal cuidados, sua grande atração é o
Museu do Cairo (ver texto nesta página).


Não muito longe está o setor católico da cidade, o bairro copta. Também cheio de vielas e construções até milenares – a mesquita de Ahmad Ibn Tulun, a mais antiga do Egito e uma das mais velhas do continente africano, datada do ano de 879 d.C., fica bem ao lado –, essa parte do Cairo guarda lugares especiais, como a Igreja de São Sérgio, ou de Abu Serga, construída sobre a cripta onde Maria, José e o menino Jesus teriam ficado, escondendo-se dos soldados de Herodes que tinham ordens para matar o Filho de Deus.

A não mais que cem metros de distância está a sinagoga Ben Ezra que, acredita-se, marca o ponto onde o bebê Moisés foi recolhido das águas do Nilo pela rainha do Egito em uma cesta. Este templo religioso sagrado do judaísmo demonstra que Cairo, como Jerusalém, ainda que não em tamanha intensidade, é uma daquelas cidades do mundo árabe em que as três grandes religiões monoteístas encontram-se e se avizinham, até mesmo geograficamente.Alguns desses sítios fazem parte de tratados de paz que permitiram que os judeus, por exemplo, pudessem manter seus locais sagrados e realizar seus cultos. Esses prédios – a mesquita, a sinagoga, a igreja – são referidos em documentos com mais de mil anos de idade e envolvem figuras basilares da fé de bilhões de pessoas, como Jesus, Moisés e o profeta Jeremias. É ou não é fabuloso?

Curiosidades


¦ Na região mais próxima dos aeroportos do Cairo, a cidade cresce em ritmo acelerado. É, literalmente, um oásis no caos urbano da capital. São condomínios de alto padrão que surgem no deserto, e obras de grande porte, como shoppings, nos moldes ocidentais.

¦ Há bairros bem elegantes na cidade que compreendem a parcela menor da metrópole. É em um desses que está o túmulo do ex-presidente Anuar Sadat, herói nacional. A tumba fica em frente ao palanque onde ele foi fuzilado em um atentado em 1981 e que permanece intacto.

¦ Estima-se que a atual Cairo tenha sido fundada no século 2 da era cristã pelos romanos a partir de uma fortaleza persa que ficava às margens do Rio Nilo e próxima à antiga capital Mênfis e às pirâmides de Gizé. Hoje, a zona metropolitana da cidade abrange todos esses locais.

 


O retorno das múmias

 
Museu Egípcio do Cairo: acervo riquíssimo guarda 33 múmias

O Museu Egípcio do Cairo é uma construção que causa impressão por fora – é um prédio bonito, amplo e bem conservado no coração da capital egípcia – e fascínio por dentro. O acervo da instituição é único, como se poderia imaginar, dada a riqueza da história do país. Há, porém, particularidades que merecem a atenção do turista.


Muitas das peças hoje em exposição foram, literalmente, resgatadas de outras nações e museus do mundo, dada a tradição de saques que o Egito sofreu, por ladrões e pesquisadores, entre os séculos 18 e 20. Um dos maiores tesouros recuperados são os objetos e as riquezas encontradas na tumba do faraó Tutancâmon.
A múmia do Faraó Menino, como entrou para a história, foi danificada, estudada e devolvida – com relutância – ao Egito, e hoje pode ser vista em seu túmulo no Vale dos Reis, na região central do país, mas seu incrível sarcófago de ouro maciço, pesando mais de 110 quilos, está na ala dedicada ao soberano do Museu Egípcio do Cairo. Lá também estão muitos apetrechos encontrados na tumba do faraó, descoberta pelo arqueólogo inglês Howard Carter em 1922 – seus tronos, suas camas, estátuas, além da belíssima máscara mortuária em ouro e pedras preciosas, que pesa 11 quilos. Outras grandes atrações do lugar são as duas Salas das Múmias.


SILÊNCIO

A visitação aos corpos mumificados de antigos faraós, como Ramsés II, um dos mais importantes da história do Antigo Egito, só passou a ser permitida ao grande público a partir de 2006 e ainda assim com restrições. Câmeras fotográficas e filmadoras são proibidas dentro do museu, assim como registrar imagens em celulares. Tudo fica em um balcão na portaria.
Nas duas salas onde estão, ao todo, 33 múmias, que incluem faraós, seus familiares e sacerdotes, é proibido falar. Isso mesmo. Há um sensor de som que apita quando alguém começa a conversar. Os faraós eram tidos como deuses pelos egípcios e a visitação a seus corpos, cuja conservação é espantosa, leva a antiga crença em consideração. Respeito total diante dos pessoas que um dia foram sagradas.

Fonte: O Popular - Rogério Borges - De Mênfis, Egito - Fotos: Rogério Borges

Fotos:
Interior da mesquita
Vista geral do Cairo
Mesquita de Alabastro
Colosso de Ramsés II, em Mênfis: líder governou o Egito durante 66 anos
Pirâmide de Zoser, em Sakara: a mais antiga do país

 

 

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