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A ecologia do papel - Dr. Roberto Naime

A primeira visto pode parecer até heresia, mas de repente o uso do papel reciclado para impressão ou escrita pode não ser tão bom para o meio ambiente conforme se imagina. As empresas do setor asseveram que não existem evidências de que o papel reciclado seja menos impactante para o meio ambiente do que o papel comum. Matéria no Jornal do Comércio de Porto Alegre, datada de 12 de maio de 2008, pg 11 assinala que estudos da Escola Superior de Agricultura Luis de Queiróz em Piracicaba indica que a reciclagem de papel pode gerar volumes de efluentes até 6 vezes maior do que o papel branco.
 

O estudo também assinala que a quantidade de energia gasta para a produção pode ser bem maior, bem como o consumo de água e produtos químicos diversos. O “mix” necessário para a produção de papel reciclado também é discutível, uma vez que as empresas registram que 75% das aparas são utilizadas pela primeira vez, em misturas que utilizam 25% de papel reaproveitado.


No Brasil, todo papel produzido vem de aparas celulósicas resultantes de florestas plantadas com esta finalidade, de forma que representantes do setor consideram uma certa mistificação imaginar que o reaproveitamento do papel salva árvores, pois as vezes são produzidas aparas novas exatamente para viabilizar a reciclagem.


E ninguém pode afirmar que a reciclagem não guarde um tanto de modismo e marketing que pode ser tão relevante ou mais do que a simples idéia de preservação que motivaria a reciclagem em si mesma. A produção de papel reciclado atinge em média 10% da produção total de papel e a indústria celulósica acredita que sustentabilidade na produção total de papel é mais ter perdas menores nos processos do que reciclar aparas.


A maior importância que a indústria de celulose atribui à reciclagem de aparas é a possibilidade de inclusão social e geração de renda para agentes ambientais e catadores em geral. Portanto a indústria atribui mais uma dimensão social para esta atividade do que ambiental, e isto é extremamente relevante num país onde cada vez mais é consensual a idéia de extirpar a pobreza absoluta.


A diretora presidente da Fundação Espaço Eco, entidade que presta consultoria em análise de ecoeficiência para indústrias de diferentes segmentos, Sônia Chapman acredita que as duas categorias de papel cumprem as suas funções, e que o importante é o uso racional de matéria-prima e energia. Ela acha que só produzir papel reciclado não é o caminho, assinalando que esta discussão é análoga à questão dos alimentos orgânicos.


Se toda população passasse a consumir alimentos orgânicos exclusivamente, não haveriam terras suficientes para viabilizar a produção apenas segundo esta metodologia.


A demanda de papel reciclado tem crescido a taxas superiores às demandas por papel convencional, e isto tem favorecido o uso de aparas recicladas e incrementado a inclusão social e geração de renda entre os estratos menos favorecidos da população.


A indústria do setor registra até mesmo dificuldades de obtenção de matéria prima para fabricação de embalagens e papéis sanitários, que historicamente sempre reaproveitaram aparas de papel já utilizado e coletado para reciclagem.


A utilização institucional do papel reciclado tem mais aspectos de marketing na responsabilidade corporativa do que qualquer outro motivo. Este uso de papel reciclado virou uma espécie de materialização da responsabilidade corporativa devido à percepção que gera nos consumidores e na sociedade em geral.
É elogioso que as empresas ao diagnosticarem esta percepção façam o uso da mesma. E que isto não represente apenas uma estratégia de marketing e comunicação, mas sim numa verdadeira atitude que expresse maturidade na busca de sustentabilidade ambiental.

Roberto Naime  - Mestre em Qualidade Ambiental
FEEVALE - roberto.naime@hotmail.com

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