Mundo Mulher

Conquistas femininas não servem para abrir mão do pai

12/08/2011

Estaremos comemorando neste domingo próximo o Dia dos Pais. Mas, isto é apenas uma data comercial? Se não o é, qual a importância deste papel em nossas famílias hoje em dia? E em nossa sociedade?
Será que percebemos a real função do pai na construção de nosso psiquismo? Vamos lá.

É interessante perceber que, a mãe, pela sua capacidade de gerar e suas qualidades maternais sempre esteve em maior evidência que o pai no que concerne a família, deixando este em segundo plano. No entanto, este segundo plano não deve significar exclusão sob pena de sofrermos as consequências da perda da função estruturante do pai na construção das relações da criança com o mundo.

Esta é, ao meu ver, a verdadeira função do pai.
 
Enfrentamos hoje, socialmente, sintomas ligados a fragilidade da função parental. Não somente os pais mas também as mães se encontram cada vez mais destituídos do poder que lhe era antigamente instituido socialmente levando-os a desempenhar mais facilmente seus papéis de pais. Hoje em dia, os contornos destes papéis estão cada vez menos precisos, deixando estes adultos em uma posição menos clara da sua função enquanto estruturantes do eu filial.

Vemos assim, agitação, stress e irritabilidade como os sintomas mais comuns em crianças. Sem falar na depressão e na expressão da violência cada vez mais comuns nas relações sociais de nossas crianças.
É claro que isto está intimamente ligado à própria posição social que se encontram nossas crianças atualmente. Nossa cultura tem colocado as crianças em uma posição privilegiada, onde o norte da criação gira em torno do que nada lhe falte.

A lei simbólica é a lei do desejo.

Aceitamos cada vez menos a frustração em nossas vidas e, consequentemente, não a queremos também para nossos filhos.

Diante deste quadro, cada vez mais, especialistas se interrogam sobre a perda da função do pai em nossas sociedades contemporâneas e suas consequências. Dentro desta perspectiva, gostaria de falar aqui, de maneira bem simplificada, sobre a importância deste papel na família para que possamos reverenciar um pouco mais a posição paterna na construção do Eu.

É inegável a importância da mãe nos primeiros momentos de vida do filho. Por sua capacidade maternal, ela é o suporte primordial e estruturante que permitirá o desenvolvimento intelectual e motor do seu filho. Através desta primeira relação, a criança adquire a segurança necessária para sua entrada nas relações sociais. Neste primeiro momento não existem dois mas somente um. Mãe e filho são ainda uma coisa só, indiferenciada.

Mas e o pai? O pai é justamente este terceiro que vem romper gradativamente a relação simbiótica entre mães e filhos. É o pai quem primeiro simboliza o outro nas relações do seu filho, por isso sua grande importância. Este pai traz consigo, ou pelo menos deveria, pois isto está cada vez mais ausente nos pais reais, a lei da separação e a introdução da castração do desejo.

Ele impõe, com sua presença o caráter social da dimensão humana e obriga mãe e filho à entrarem em outro modo relacional. Mas como isto ocorre?
É a mãe quem introduz o social na vida dos filhos,
é ela quem permite, ou não, a entrada deste terceiro
na relação desvinculando-se gradativamente do filho
e submetendo-se, ela também, à função simbólica deste pai que a retira do seu próprio desejo de simbiose com o filho e a reintroduz no social.

Estamos vivendo um processo de matriarcalização da sociedade. Este movimento traz à tona a perda da função simbólica do pai, antes organizador das relações sociais. Estamos vivendo a transição do modelo de poder patriarcal ao modelo matriarcal que traduz de maneira distinta a expressão do nosso psiquismo.

O modelo patriarcal simboliza a castração do desejo individual para o bem do coletivo. As expressões dos desejos se submetiam à lei do limite do outro.

O que percebemos hoje, é que este limite do outro se modificou. Estamos cada vez mais sendo regidos pela lei do desejo individual pois temos a mãe simbólica como norte, aquela que está lá, presente sempre, para suprir todas as nossas necessidades como no início de nossas vidas.

Que fique claro que o modelo patriarcal não é melhor nem pior ao modelo matriarcal. Até porque não acredito que possamos mudar o curso das coisas.
Mas o que precisamos é estarmos conscientes destas mudanças e trazemos ao nosso cotidiano estas dimensões fundamentais para o nosso desenvolvimento psíquico. Reintroduzir o pai em nossa sociedade
é dar-lhe sua devida importância, é recriar um espaço digno para ele para que possamos reprimir adequadamente a expressão de certos desejos infantis e resgatarmos o respeito ao próximo.

Vivemos reclamando da falta de respeito e da violência exacerbada que estão destruindo as relações sociais, não é? Pois então, enquanto mulheres, somos nós que podemos reintroduzir este pai simbólico ao seio de nossas famílias permitindo aos pais reais o verdadeiro exercício de sua função.

Eduquemos nossos filhos respeitando as leis simbólicas de castração para que tenhamos indivíduos menos narcisistas e mais propensos à uma vida social de respeito e solidariedade.

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*Katya Di Pierro
Psicosocióloga formada na Université Paris 13 - França
http://www.bahiamulher.com.br/

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