Mundo Mulher

Eles se renderam à plástica

04/05/2012

Nos últimos 15 anos, o número de cirurgias estéticas em homens cresceu 11 vezes no Brasil. Descubra o que eles fazem, por que fazem e quanto pagam para ficar bonitos

 

Eles querem ficar bonitos – com uma aparência melhor, como preferem dizer –, pagam sem pestanejar, não suportam sentir dor e, sobretudo, não querem marcas que denunciem que se renderam ao bisturi. Definitivamente, homens são complicados. Que o digam os cirurgiões plásticos. Acostumados a atender o público feminino, eles estão aprendendo a lidar com um número inédito de homens que, no mundo inteiro, estão chegando aos consultórios. Nos Estados Unidos, as cirurgias estéticas masculinas já correspondem a 10% do total. Do mais de 1,7 milhão de procedimentos dessa natureza realizados nos EUA no ano passado, mais de 190 mil foram em pacientes do sexo masculino.


No Brasil, segundo os dados mais recentes da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, as cirurgias masculinas saltaram de cinco mil em 1994 para 80 mil em 2011. “Poder assumir sua vaidade e sua fragilidade foi um direito importantíssimo conquistado pelos homens. Tão importante quanto à conquista do mercado de trabalho pelas mulheres”, diz o cirurgião plástico Nilson Cunha, Chefe do serviço de cirurgia plástica do Hospital Miguel Couto, no Rio de Janeiro. “Estar bem com a própria imagem é condição para a felicidade, um bálsamo na existência que era negado aos homens por questão de preconceito”, complementa. Para os cirurgiões, esses novos pacientes têm trazido, além de dinheiro, muitas novidades. E dúvidas. “A maioria dos médicos trata os homens da mesma maneira que trata as mulheres”, afirma o cirurgião lembrando que isso está errado e cria muita insatisfação.


Afinal, por que os homens, que historicamente gozam do privilégio social de “envelhecer bem”, estão abrindo mão dessa prerrogativa e ingressando na corrida pelo rejuvenescimento. Nilson Cunha explica que são diversos motivos: melhorar a autoimagem e sentir-se bem (repare que a palavra beleza não aparece) por razões prioritariamente profissionais e ficar com uma aparência melhor (bonito jamais!) por conta de um novo relacionamento. Alguns médicos suspeitam que o relacionamento (e a necessidade de parecer mais jovem) já seja até a razão principal por trás das cirurgias. “Relacionamento é muito importante, principalmente quando eles arrumam uma mulher mais jovem. Querem apagar os sinais da idade para que a comparação não seja tão discrepante”, diz o especialista. Ainda que Cunha não tenha certeza sobre a hierarquia de motivos que levam os homens à cirurgia, de um item ele não possui dúvida, que o desejo de melhorar na carreira é extremamente importante. “O homem tem vaidade. Cada vez que ele compra um carro novo, isso é vaidade; cada vez que ele quer subir de cargo na empresa, isso é vaidade” afirma.


       Nos tempos atuais as cirurgias chegam ao ponto de serem sugeridas pelos RH das empresas que orientam diretores e executivos a investirem no visual e nas práticas voltadas ao lazer, yoga, meditação para ajudar no relaxamento melhorando a qualidade de vida de todos. Esta estatística é confirmada por Ylana Miller, Diretora Executiva da Yluminarh Desenvolvimento Profissional. “Em anos de trabalho com recursos humanos, nunca vi ninguém reprovar candidato ou alguém perder emprego porque tinha rugas ou cabelos brancos, mas que a aparência é muito importante, isso não resta dúvida. Homem tem que se cuidar e possuir qualidade de vida também interfere diretamente na ascensão de uma carreira” diz a especialista que além de desenvolvimento de carreira, liderança, gestão de pessoas, aplica coach em políticos e celebridades no Rio de Janeiro.


        O psicólogo Luiz Cuschnir, do Centro de Estudos da Identidade do Homem e da Mulher, concorda. Ele conta que faz um trabalho com seus pacientes no qual pede que eles pensem em si mesmos como se fosse uma pizza. E nela coloquem as fatias que compõem sua identidade. A profissão ocupou um espaço superior a 50% para todos os pacientes do sexo masculino. “O homem se insere na sociedade por meio de sua profissão e para ser bem-sucedido nessa área ele vai usar todos os recursos que estiverem a seu alcance”, diz. De fato, o investimento na aparência pode ser bom negócio. Pesquisadores da Universidade do Texas demonstraram, por meio de estudos demográficos e de salários em várias empresas, que a aparência tinha um impacto positivo sobre a renda, independentemente da ocupação. Os mais atraentes ganhavam de 5% a 10% mais. Os resultados coincidem com outro estudo realizado pelo banco Federal Reserve de St. Louis, nos Estados Unidos, que concluiu que a aparência pode afetar a produtividade do funcionário.


         O publicitário Rodrigo Andrade pesava 120 quilos e tinha pálpebras caídas. Com 170 sentia-se pesado e sem ânimo. Fez uma dieta rigorosa, livrou-se de 30 fez uma lipoaspiração para retirar o excesso de gordura da barriga. Depois disso, conta que ficou mais vaidoso e resolveu investir na aparência: se matriculou em uma academia, fez cirurgia para a retirada de bolsas sob os olhos e aplicou Botox nas linhas de expressão da testa. Além da aparência, também se diz feliz com as mudanças em seu desempenho profissional. “Eu era estressado, não estava bem. A primeira coisa que as pessoas olham na minha profissão é seu aspecto físico”, afirma. “Se precisar, dou mais uma esticadinha.”


          A questão masculina parece ser o conceito de vaidade. Ele é diferente para cada um dos sexos. Por motivos que a biologia evolutiva já explicou à exaustão, desde o tempo das cavernas a mulher tem sido selecionada pela beleza (que está ligada à juventude, que, por sua vez, está relacionada a maior sucesso reprodutivo), enquanto os homens sempre foram selecionados pelo poder e pela força (o macho provedor, capaz de sustentar os descendentes e garantir que seus genes sobrevivam).


          Até o final do século XVIII os homens podiam admitir sua preocupação com a beleza sem ter sua masculinidade questionada. Os homens da aristocracia europeia lançavam mão de todos os recursos disponíveis para ter o que, na época, era considerado uma boa aparência: usavam perucas, roupas com rendas e babados e até maquiagem e salto alto. Com a Revolução Francesa, a vaidade masculina passa a ser malvista. “A ética do luxo era muito ligada à nobreza. Depois vem a ética do capitalismo, que não combina com aquele homem colorido”, explica o cirurgião Nilson Cunha. Segundo ele, esse é o momento da grande renúncia masculina à vaidade, que passa a ser relegada ao universo feminino. Por mais de um século os homens tiveram de ser discretos com relação a sua aparência e, principalmente, ao corpo, que não deveria ser exibido em nenhuma hipótese. A exibição, ainda que discreta, ficava reservada às mulheres. Essa mentalidade começou a mudar a partir da década de 1960, com o início do chamado culto à juventude. E se intensificou nos últimos anos.

Clínica de Cirurgia Plástica Nilson Cunha -  Rio de Janeiro

 
Michelle Azeredo – dmc21@dmc21.com.br

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