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Chicago - Flávio Paranhos

Chicago - Flávio Paranhos

Chicago -  Flávio Paranhos

Uma bela cidade. Um belíssimo teatro às margens do lago Michigan, num simpático lugar chamado Navy Pier. Chicago Shakespeare Theater, com uma enorme fachada em vidro, bem do lado da roda-gigante. Especializado em... Shakespeare. No momento em cartaz uma absolutamente perfeita versão para o Rei Lear. Larry Yando, que faz Lear, e suas três filhas, as megeras Regan e Goneril, e a sincera e amorosa Cordélia estão dolorosamente convincentes.

Um detalhe – Regan é interpretada por uma atriz branca, Goneril e Cordélia, atrizes negras. Bianca LaVerne Jones, que faz Goneril, é de uma beleza estonteante. Hipnotizante. Eu e meus colegas da turma do gargarejo apreciamos bastante.

Don Giovani, pela Chicago Lyric Opera, também uma experiência estética que beira o catártico. Mozart tem essa qualidade de não deixar a peteca cair. Todas as árias, sem exceção, são leves e saborosas, até mesmo o fim, quando Don Giovani vai pro inferno por conta de sua coerência. Uma criança de 11 anos gostaria. Uma criança de 11 anos gostou. Ou disse que gostou, pra não contrariar o pai. Carolina foi ressabiada, mas com mais confiança em mim depois de ter lhe provado, na noite anterior, que jazz era bacana. O gosto de papai não é estragado, como a oposição diz (basicamente todo mundo).

Ao contrário de Nova York, onde a maioria dos “jazz clubs” permite crianças, os de Chicago só até oito da noite, o que significa que se perde a banda principal, que geralmente toca depois das dez.

Também os de blues. Mas Andy’s Jazz Club, na parte norte, acima do rio, permite crianças, desde que entrem antes das oito e acompanhadas dos pais. Há de tudo, mas no nosso caso fomos surpreendidos com um quarteto (violão, contrabaixo, bateria e piano) afinadíssimo, o Andy Brown Quartet.

Já no Budy Guy Legends, você terá de sair às oito em ponto, se estiver acompanhado de um estorvinho de 11 anos recém-comemorados. E aí é uma perda grande, porque só se consegue aperitivos, como um solo deprê (“comprem meu CD, nem que seja de dó”). Ainda assim, muito bom.

Budy Guy é vivo, antes que você pergunte, mas só toca por lá nos meses de janeiro (não me pergunte por quê). Não aceitam reservas, o que é um inconveniente relativamente comum para clubes de blues.

House of Blues, claro. Mas só tinha rock pauleira. Meu gosto é eclético, mas vai convencer meus dois estorvos a ir num show de rock mais pauleira... Então, matamos a vontade com o famoso Gospel Brunch. Muito mais ou menos. Em primeiro lugar, não cometa o erro infantil de tomar café no dia. O tal brunch mais parece um banquete greco-romano, só que de junk food. Não que eu não goste, quanto menos bem pra saúde faz uma comida, mais gostosa será (uma verdade matemática). Mas tem de ir de estômago vazio. E o grupo gospel não chega a empolgar. Desaconselho.

Million Dollar Quartet está instalado num teatro todo detonado, quase voltamos pro táxi. Mas o show vale. O cara que faz Elvis Presley é a prova que faltava de que ele não morreu. Chegue cedo e mate a fome num restaurante alemão próximo. Peça um prato só pra três, senão será desperdício.

Flávio Paranhos é médico e escritor

Publicado em O Popular

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